MEU TORRÃO

É PRECISO PACIÊNCIA

PARA PODER SUPORTAR

A DISTÂNCIA DO MEU LAR

NA TERRA DA VIOLÊNCIA

ESTÁ FALTANDO A ESSÊNCIA

DO AMOR, DA COMPAIXÃO,

DA FRANQUEZA, DA RAZÃO,

DAS COISAS DE MINHA TERRA,

DO FORRÓ DE PÉ-DE-SERRA

QUE ALEGRA O MEU SERTÃO

SINTO SAUDADE DAS FARRAS

DO LUAR DO MEU SERTÃO

DAQUELE CHEIRO DE CHÃO

DA CANTIGA DAS CIGARRAS

BRINCADEIRAS E ALGAZARRAS

QUE QUASE SEMPRE FAZIA

DAS NOITES DE CANTORIA

DOS BATE PAPOS, DAS GLOSAS,

DAS CABOCLINHAS CHEIROSAS

QUE SÓ DAVAM-ME ALEGRIA

SAUDADE DAS VAQUEJADAS

DO CHIQUE-CHIQUE E FAXEIRO

DO  CHEIRO DO MARMELEIRO

JÁ NAS PRIMEIRAS CHUVADAS

LEMBRO DAS BELAS NOITADAS

DOS VERSOS QUE OUTRORA FIZ

HOJE SOU MUITO INFELIZ

DISTANTE DO MEU TORRÃO

POIS DEIXEI MEU CORAÇÃO

NO LUGAR QUE FUI FELIZ.

PRIVADO DA LIBERDADE

NO MUNDO JOGADO À ERMO

É DIFÍCIL ACHAR UM TERMO

QUE EXPLIQUE ESTA CIDADE

ONDE NÃO MORA A VERDADE

AONDE A MALDADE IMPERA

AQUI NÃO TEM PRIMAVERA

NÃO SINTO O CHEIRO DAS FLORES

ILUSÕES E DISSABORES

HOJE É O QUE MEU PEITO ESPERA

RESTA SOMENTE A LEMBRANÇA

DAQUELE MUNDO TÃO BELO

ONDE DEIXEI O CASTELO

QUE ERGUI QUANDO ERA CRIANÇA

ENQUANTO HOUVER ESPERANÇA

DE UM DIA PODER VOLTAR

VOU TER FORÇAS PRA LUTAR

E SEGUIR O MEU DESTINO

ME ORGULHO EM SER NORDESTINO

QUE O NORDESTE É MEU LUGAR.

São Paulo, 10 de abril de 1995

Ciro Filó